Na COP30, Brasil assume liderança no mercado de carbono

União Europeia e China aderem à coalizão liderada pelo Brasil para unificar regras e preços de emissões

CANAL RURAL/MIGUEL DAOUD*


Foto: Pedro Ventura/Agência Brasil

A COP30 colocou o Brasil no epicentro de um movimento climático global: a adesão da União Europeia e da China à coalizão liderada pelo Brasil para integrar mercados regulados de carbono, um passo importante para transformar promessas ambientais em um sistema de regras, preços e oportunidades reais.

Na prática, o grupo pretende harmonizar padrões de medição e verificação de emissões (MRV), criar regras de integridade e abrir caminho para a união entre sistemas nacionais de precificação de carbono. O Brasil passa de simples exportador de matérias-primas a formador de regras, posição estratégica que lhe confere poder de agenda e protagonismo diplomático.

Impactos para o agro brasileiro

Para o agro brasileiro, esse movimento pode parecer distante, mas está muito mais próximo do que se imagina. Um mercado de carbono integrado valoriza práticas sustentáveis e penaliza cadeias com alta pegada ambiental. Quem comprovar eficiência, uso de bioenergia e manejo de solo que sequestra carbono tende a ganhar competitividade; quem não se adaptar, corre o risco de ser excluído de mercados exigentes como o europeu.

A entrada da UE e da China não é coincidência. Bruxelas busca reduzir o custo do ajuste de fronteira de carbono (CBAM), e Pequim quer influenciar as novas regras globais, em vez de apenas segui-las. O Brasil, grande exportador de alimentos e guardião da maior floresta tropical do planeta, assume papel de mediador natural, e pode transformar seu patrimônio ambiental em vantagem econômica.

Sem um mercado regulado nacional robusto, com regras claras e credibilidade, o país pode ficar de fora da “elite climática” e ver suas exportações taxadas por falta de comprovação ambiental. A corrida, portanto, não é apenas por crédito de carbono, mas por governança, transparência e tecnologia.

A “era do carbono” não é mais um tema de conferência: está chegando à rotina de quem planta, cria e exporta. O Brasil tem uma chance rara de unir preservação e competitividade, transformando seu protagonismo ambiental em diferencial econômico. Mas, como em todo mercado, quem não mede, perde.

Brasil e o potencial de liderança

Alguns dos signatários iniciais da Open Coalition on Compliance Carbon Markets, liderada pelo Brasil, incluem União Europeia, China, Reino Unido, Canadá, Chile, França, Alemanha, México, Armênia e Zâmbia. O Brasil, como país anfitrião, ocupa posição central nessa articulação que pretende conectar mercados regulados de carbono e definir padrões globais para a precificação das emissões.

O que o Brasil está fazendo, na prática, é ajudar a desenhar o “manual” da nova economia climática. A partir de agora, o carbono vira parte do custo de produção, como energia, insumo e logística. Quem reduzir emissões ou provar boas práticas será premiado. Quem ignorar o tema será punido, direta ou indiretamente, pelos mercados internacionais.

Para o campo, isso significa que sustentabilidade deixa de ser discurso e vira diferencial econômico real. Plantio direto, integração lavoura-pecuária-floresta, uso de bioenergia e certificações ambientais passarão a valer dinheiro, literalmente.

O Brasil tem todas as condições para ser líder e não refém dessa nova ordem. Mas isso exige ação imediata: estrutura de mercado, regulação confiável e apoio técnico ao produtor. Se o país souber aproveitar o momento, pode transformar o carbono em seu novo produto de exportação. Caso contrário, corre o risco de ver o futuro passar,medido em toneladas de CO2 e oportunidades perdidas.

*Miguel Daoud é comentarista de Economia e Política do Canal Rural

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