Se torcer contra é mais gostoso, Brasileiro de 2023 é extremamente prazeroso

Foi o querido filósofo Friedrich Nietzsche que disse, se este escriba não está enganado, que ver os outros sofrendo é bom

FOLHA


Torcedores do Flamengo acompanharam atentamente o duelo entre Fortaleza e Palmeiras, que terminou empatado - Cesar Greco - 26.nov.23/Palmeiras/by Canon

Certa vez, uma universidade alemã (sempre eles) fez uma experiência na qual mostrava para torcedores gols do próprio time e, depois, gols perdidos pelo rival. O estudo detectou que o torcedor-cobaia sorria e demonstrava mais satisfação com o fracasso da equipe rival do que com o sucesso do chamado time de coração.

A pesquisa foi lembrada no documentário '15 Minutes of Shame' ('15 minutos de Vergonha'), que trata da cultura de ódio e de cancelamento online —a produtora é Monica Lewinsky, moça que se tornou uma especialista no tema depois de ser sacaneada pelo então presidente americano Bill Clinton, que fez, mas disse que não fez, quase como um zagueiro na hora da falta.

E, se torcer contra é o que dá mais satisfação, o Brasileiro de 2023 é o campeonato mais prazeroso da história. No domingo (26), por exemplo, era comum ver torcedores muito mais preocupados e tensos com os jogos dos rivais, movimento conhecido vulgarmente como secada.

Em Botafogo x Santos, este humilde escriba presenciou corintianos torcendo para o alvinegro carioca, como uma forma de ver o arquirrival Palmeiras perder a liderança e, ao mesmo tempo, segurar o Santos, um concorrente na briga contra o rebaixamento. Os mesmos corintianos não tinham visto nem o segundo tempo do embate do próprio time dois dias antes, quando a equipe de Menezes, o Mano, perdeu de 5 a 1 para o Bahia (até porque masoquismo tem limite).

Horas depois, no mesmo boteco de esquina, flamenguistas (reforçados pelos mesmos corintianos) deixaram de lado o jogo do rubro-negro para se concentrar no duelo entre Fortaleza e Palmeiras. Os gritos de gol para o Fortaleza foram bem mais altos do que para os do próprio Flamengo (que, simultaneamente, tinha uma vitória previsível contra o lanterna América-MG).

Essa alegria com a dor do rival deve ser a tônica da 36ª e antepenúltima rodada, que já começa precocemente nesta terça (28), com Vasco x Corinthians, duelo contra a degola que terá a atenção/preocupação de torcedores de Bahia, Cruzeiro e Santos, pelo menos. Para essa turma, talvez fosse melhor uma vitória do Corinthians (que já tem 44 pontos), o que manteria o Vasco (42) à beira do abismo.

Ainda lá na parte debaixo, o Bahia de Rogério Ceni enfrenta o São Paulo, que tenta vencer a primeira fora de casa no campeonato; e o Santos recebe o Fluminense em fase pré-Mundial. Neste caso, corintianos e vascaínos vão se unir na torcida pelos visitantes. A ideia é que todos permaneçam juntos no lamaçal.

Porém o jogo da rodada é no dia seguinte, a 57ª final antecipada do torneio: Flamengo x Atlético Mineiro, às 19h30, no pasto mundialmente conhecido como Maracanã —que receberá o quinto jogo em oito dias, ou algo parecido. Provavelmente a partida terá todos os palmeirenses (e, vá lá, botafoguenses) grudados na televisão secando o rubro-negro do professor Tite. Um empate também não seria ruim, mas a vitória do Galo possibilitaria ao Palmeiras abrir três pontos dos dois rivais na liderança; isso faltando duas rodadas.

Sim, sim, o Botafogo pode vencer o Coritiba e continuar a um ponto do Palmeiras. Mas, cá entre nós, querido leitor e querida leitora, vocês ainda acreditam no título do Botafogo? O Putfire chegou ao ponto em que, se vencer o campeonato, será considerado uma grande zebra.

E o professor Tite, que disse antes de assumir o Flamengo que não comandaria nenhum time em 2023, afirmou agora que não está olhando a pontuação do campeonato. Seria o único homem envolvido na disputa sem uma cópia da tabela no bolso. Eu tenho uma para cada calça.

Se este escriba não está enganado, foi o querido filósofo Friedrich Nietzsche que disse que ver os outros sofrendo é bom —certeza que esse canalha não torcia para time nenhum.



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