Qatar resgata para a Copa estátua da cabeçada de Zidane em Materazzi

Escultura que causou protestos há nove anos poderá novamente ser vista em Doha no ano do Mundial

FOLHA/LUíS CURRO


O francês Zidane desfere cabeçada no italiano Materazzi na final da Copa do Mundo de 2006, na Alemanha - Peter Schols - 9.jul.2006/Reuters

O ano: 2006. O mês: julho. O dia: 9. O país: Alemanha. A cidade: Berlim. O estádio: Olímpico. O evento: final da Copa do Mundo. Os rivais: Itália e França.

No segundo Mundial decidido nos pênaltis (o primeiro foi em 1994, Brasil x Itália, nos EUA), os italianos se sagraram pentacampeões ao superar os franceses por 5 a 3, depois de empate por 1 a 1 no tempo normal mais prorrogação.

Os personagens mais marcantes dessa decisão foram o craque francês Zinédine Zidane, capitão dos Bleus, e o zagueiro Marco Materazzi, da Squadra Azzurra.

Não só porque eles foram os responsáveis pelos gols de suas respectivas seleções, ambos no primeiro tempo –Zidane, de pênalti com cavadinha, e Materazzi, de cabeça após escanteio.

Mas porque eles protagonizaram a jogada mais lembrada da partida. A violenta cabeçada que o camisa 10 desferiu no peito do camisa 23 no início do segundo tempo da prorrogação.

O motivo: uma provocação do beque italiano.

No relato do próprio Materazzi, depois de um desentendimento na grande área italiana que deixou o italiano com cara de poucos amigos, Zidane disse que depois do jogo lhe daria sua camisa, e ele retrucou: 'Prefiro sua irmã'.

A reação do francês, que tem uma irmã chamada Lila, foi imediata e intempestiva: a careca no tórax do italiano, que desabou.

O árbitro argentino Horacio Elizondo, ao saber da agressão por um auxiliar, mostrou o cartão vermelho a Zidane.

O lance ficou tão famoso que o escultor argelino Adel Abdessemed o imortalizou em uma estátua, cujo destino acabou sendo Doha, a capital do Qatar.

Colocada na orla da cidade, ela teve estadia curta por lá, apenas um mês.

Protestos constantes de muçulmanos –que a consideravam uma violação a dogmas religiosos, por incitar a idolatria, além de ser um estímulo à violência– fizeram com que as autoridades a retirassem e a guardassem.

Agora, entretanto, com a proximidade da Copa deste ano, que será em novembro e dezembro, a estátua de bronze de 5 metros de altura, chamada de Coup de Tête (Cabeçada), foi resgatada e será exibida para a população local e para os turistas.

Não perto do mar, a céu aberto, como nove anos atrás, mas em um local fechado, um museu com temática esportiva, a ser visitado somente por quem tiver interesse.

Nas palavras de Al-Mayassa bint Hamad bin Khalifa Al-Thani, irmã do emir do Qatar e responsável pela administração dos museus do país, 'as sociedades evoluem', e hoje haverá entre seus compatriotas uma aceitação maior da obra de Abdessemed.

'As pessoas podem criticar algo no começo, mas depois entendem e se acostumam com isso', disse ela em entrevista a jornalistas. 'Zidane é um grande amigo do Qatar e um modelo para o mundo árabe.'

Al-Thani prosseguiu: 'Estamos tentando ensinar e capacitar as pessoas por meio da arte, e ela representa fatos da vida. Com a escultura de Zidane, falaremos do estresse dos esportistas em grandes competições e sobre a importância de lidar com a saúde mental'.

O museu 3-2-1, onde a Coup de Tête terá lugar de destaque em exposição a ser iniciada antes do início da Copa, fica localizado no Estádio Internacional Khalifa, um dos que receberão jogos do Mundial, incluindo a disputa pelo terceiro lugar.



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