Agronegócios
Brasil vai perder autossuficiência no arroz e terá de importar
CVNEWS | BRASILAGRO
Em poucos anos, o Brasil deixará de ser autossuficiente em um dos principais produtos básicos do dia adia da alimentação do consumidor brasileiro, o arroz. O cenário dos últimos anos indica para isso.
A previsão é de Vlamir Brandalizze, consultor e especialista no setor de grãos. Na avaliação dele, haverá, cada vez mais, uma substituição da cultura do arroz pela dasoja, mais rentável.
Brandalizze diz que os preços baixos epoucos remuneradores da oriziculturaafastam os produtores da atividade. O Brasil, segundo ele, tem um dos preços mais baixos no mundo para esse cereal.
Não adianta o governo zerar o imposto de importação, uma vez que os preços daqui são inferiores aos do mercado externo. O arroz do exterior terá entraves para chegar ao mercado brasileiro, afirma.
Boa parte dessa provável escassez de arroz produzido internamente ocorrerá devido a um jogo de forças internas. A concorrência no varejo aumenta, com reflexos sobre a indústria e sobre os produtores.
O varejo está bastante concentrado, as indústrias devem passar por uma nova fase de concentração, com a redução no número das pequenas, e os produtores agrícolas menores saem da atividade, ficando apenas os de maior fôlego na produção.
O agricultor até teve um respiro no ano passado, quando a saca do cereal chegou a ser negociada próxima de R$ 100 por um período do ano, mas já recuou para R$ 70.
A diferença, agora, é que os custos de produção estão bastante elevados, sem um horizonte de redução. Para Brandalizze, a produção de arroz é uma atividade muito cara, principalmente a do irrigado. Internamente, o setor sofre influência da alta dos combustíveis, da energia, dos fertilizantes e de outros insumos químicos.
Externamente, o produto brasileiro é barato, mas não tem competitividade no mercado externo devido à elevação do custo do transporte marítimo. Além disso, o dólar abaixo de R$ 5 inibe as exportações. Para o consultor, o país já viu essa história antes. O Brasil já foi menos dependente detrigo, mas os preços internos baixos e o aumento das importações reduziram a produção nacional. Só agora, com a recuperação dos preços, a oferta deverá aumentar.
O mesmo ocorre com osfertilizantes. Tributação e custos internos levaram o país a aumentar as compras externas, tornando essa dependência atual muito perigosa.
Os custos de produção estão elevados em todo o mundo, mas os impostos pagos pelos concorrentes dos brasileiros chegam a ser menos de um terço do que o produtor nacional paga na comercialização das mercadorias e na compra de insumos.
Esse é um item que depende de política pública. Ao contrário do que pensam os governos, a redução de impostos não vai afetar a arrecadação, uma vez que eleva o consumo em vários setores, afirma Brandalizze.
Além de pagar mais para produzir, o produtor nacional recebe menos. A tonelada de arroz vale de US$ 260 a US$ 270 no Brasil; de US$ 300 a US$ 320 no Paraguai; e US$ 300 na Tailândia, considerando produtos da mesma qualidade.
Segundo ele, o quilo de arroz custa US$ 0,60 para o consumidor nacional, um valor inferior ao US$ 0,85 a US$ 1 nos demais países.
Uma redução interna de produção já na próxima safra traria um cenário de dificuldades para o consumidor. A oferta mundial será menor, e a demanda cresce.
Um cenário traçado pelos analistas do Itaú BBA aponta custos limitadores à expansão de área na próxima safra. A relação de troca entre o cereal e a ureia, principal fertilizante utilizado pela cultura, é uma das piores nos últimos anos.
No mercado internacional, aÍndia, importante nas exportações do cereal, vive período de seca e terá produção reduzida de arroz e de trigo. Estoques menores vão elevar os preços.
O consumo mundial de arroz aumenta para 772 milhões de toneladas na próxima safra, e os estoques finais caem para 278,2 milhões, conforme dados do Usda e do Itaú BBA.
A safra brasileira deste ano será reduzida para 10,7 milhões de toneladas. Com isso, há quatro safras que a produção nacional fica abaixo dos 12 milhões de toneladas.
O consumo nacional, que foi de 11 milhões em 2020/21, recua para 10,8 milhões nesta safra, segundo dados da Conab (Folha de S.Paulom 31/5/22)