Lula acena à esquerda e anima MST, que reinicia invasões do Abril Vermelho

BRASILAGRO


Presidente Lula ao assinar a criação do assentamento Quilombo Campo Grande em Minas.FotoRicardo Stuckert - Presidência

Por Roseann Kennedy

Na semana seguinte ao encontro com o presidente Lula, Movimento dos Sem Terra já invadiu terras pelo menos quatro estados: RS, ES, BA e CE; em artigo publicado em seu site, MST pede ‘recursos massivos’ na reforma agrária e reforça: ‘nestes meses de março e abril, estaremos em jornadas de lutas’

Com a popularidade despencando, o presidenteLuiz Inácio Lula da Silvapassou a acenar de forma mais incisiva a aliados históricos da esquerda raiz. Um dos gestos mais recentes animou oMovimento dos Sem Terra (MST), que agora espera colher frutos dessa relação e pressiona o governo com a retomada de invasões do Abril Vermelho.

Nos últimos dias, o movimento invadiu propriedades em pelo menos cinco estados: Bahia, Espírito Santo, Ceará, Paraná e Rio de Janeiro. E, na quinta-feira, 13, publicou em seu site um artigo com o título:“A colheita que queremos do Governo Lula”.

O texto cobra “recursos massivos” para a reforma agrária e deixa claro que os integrantes do movimento não ficarão apenas no diálogo. “Nestes meses de março e abril, estaremos em jornadas de lutas pela Reforma Agrária”, diz a publicação com assinatura de Débora Nunes e Ayala Ferreira, dirigentes nacionais do MST.

No último dia 7, Lula esteve no acampamento Quilombo Campo Grande, em Campo do Meio (MG). Foi aprimeira visita que fez no atual mandato. No local, o petista disse que “tem lado” e não “esquece quem são seus amigos”. Também anunciou que destinará 12.297 lotes para famílias acampadas em 138 assentamentos rurais e prometeu recursos. “Uma vitória importante, mas muito aquém da demanda represada pela Reforma Agrária”, ressalta o texto.

Quatro dias depois da visita, o governomudou o orçamento de 2025 para incluir R$ 750 milhões em programas que beneficiam integrantes do movimentoem duas frentes: para aquisição de alimentos da agricultura familiar e para o Fundo de Terras da Reforma Agrária.

“Já estamos no terceiro mês do terceiro ano de mandato, chamado pelo próprio presidente Lula, como ‘o ano da colheita’. É necessário avançarmos nas desapropriações, e não é possível fazer desapropriações de terra se não houver orçamento ampliado”, destaca o artigo que considera “pífio” os valores para obtenção de terras e compara a atual gestão aos governos Bolsonaro e Temer. “Neste terceiro mandato de Lula, a política de reforma agrária tem se mostrado similar à de seus antecessores: não tem sido tratada como uma prioridade estratégica e estruturante para o país”.

“Faremos nossa parte, lutando contra o latifúndio, com a expectativa de que os próximos anúncios representem a verdadeira colheita que queremos do Governo Lula”, finaliza.

MST volta a invadir área da empresa Suzano Papel e Celulose no Espírito Santo

A retomada das invasões do Movimento Sem Terra surpreendeu nesta semana, principalmente depois de o movimento voltar a ocupar uma área da empresa Suzano Papel e Celulose na cidade de Aracruz, no Espírito Santo. Cerca de mil mulheres foram para o local na quinta-feira, 13, com o argumento de “denunciar crimes ambientais”.

A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) divulgou nota na qual condena a invasão em área de cultivo de eucalipto e ressalta que o ato viola a Constituição. Maior fabricante de celulose do mundo e uma das maiores produtoras de papéis da América Latina, a Suzano é associada a sindicato filiado à Fiesp.

Não é a primeira vez que o MST invade áreas da Suzano. Em 2023,o grupo invadiu três fazendas de cultivo de eucalipto da empresa, nos municípios de Teixeira de Freitas, Mucuri e Caravelas, no sul da Bahia. Os sem-terra só deixaram os locais com determinações judiciais.

Também na quinta-feira, foram invadidas duas fazendas na região da Chapada Diamantina (BA), nos municípios de Nova Redenção e Boa Vista do Tupim (Estadão, 15/3/25)



COMENTÁRIOS