Esportes
Paulo Wanderley e Marco La Porta disputam eleição para presidente do COB: veja principais propostas
Candidatos concedem entrevista ao ge antes da eleição marcada para esta quinta-feira, no Rio de Janeiro
CVNEWS/REDAçãO GE
Nesta quinta-feira, dia 3, no Rio de Janeiro, serão conhecidos os nomes que comandarão o Comitê Olímpico do Brasil (COB) no ciclo até as Olimpíadas de Los Angeles 2028. A eleição para presidente e vice está prevista para começar às 9h30 e coloca frente a frente duas chapas: na situação, Paulo Wanderley Teixeira e Alberto Maciel Júnior; na oposição, Marco La Porta e Yane Marques.
De um lado, o atual presidente do COB, Paulo Wanderley, dirigente oriundo do judô, tenta a reeleição apoiado pelo ex-presidente da confederação de taekwondo, Maciel Júnior. Do outro, o ex-vice-presidente do COB vindo da confederação de triatlo, La Porta, tem como vice a medalhista olímpica de bronze do pentatlo moderno Yane Marques, que era presidente da Comissão de Atletas.
Esta eleição está sendo marcada pelo questionamento da candidatura de Paulo Wanderley. Entidades ligadas ao esporte e organizações de atletas manifestaram contrariedade porque, segundo eles, se trataria de um terceiro mandato do atual presidente, que assumiu o lugar de Carlos Arthur Nuzman, de quem era vice, em 2017. O Pacto pelo Esporte e o Atletas pelo Brasil se baseiam na Lei Geral do Esporte e em entendimento do Ministério do Esporte, que dizem que o terceiro mandato é irregular. Ainda, segundo o parecer da Advocacia Geral da União, em consultoria jurídica ao então Ministério da Cidadania, em 1º de fevereiro de 2021, "o Vice-Presidente, em face da vacância definitiva do titular , assumiu de forma definitiva e efetiva o cargo de presidente, esse mandato deve ser computado como o primeiro, sendo possível apenas que dispute um único período subsequente".
A chapa de situação se resguarda em parecer do Conselho de Ética do próprio COB e do Conselho Eleitoral que entende que a primeira candidatura de Paulo Wanderley Teixeira à presidência da entidade ocorreu em 2020.
A seguir, confira entrevistas com as duas candidaturas. As mesmas perguntas foram enviadas às duas chapas e estão publicadas na íntegra.
1. Qual a prioridade da chapa para o ciclo olímpico de Los Angeles 2028?
Paulo Wanderley/Alberto Maciel Júnior: A nossa candidatura vai, neste ciclo olímpico, consolidar os resultados e avanços conquistados no esporte e na gestão do COB. Vamos trabalhar a partir de três pilares estratégicos: esporte, eficiência e transparência e conexão com a sociedade. No esporte, vamos destinar mais recursos para Confederações e estrutura para os atletas. Criaremos o Programa TOP COB para transferir mais recursos diretos às Confederações, mediante planos de trabalho, em linha com o que o COI já adota com os comitês dos países. Também vamos premiar, além dos medalhistas, as confederações que obtiverem pódios nos Jogos Olímpicos 2028. A intenção é reconhecer o esforço de todos os profissionais nos bastidores que também fazem a medalha acontecer.
Vamos incorporar novas ações de austeridade, eficiência e transparência no uso dos recursos. Ao longo da nossa gestão, o COB aumentou em 160% o investimento direto no esporte, enquanto a arrecadação das loterias cresceu 80%. Isso foi possível graças à austeridade, foco e eficiência.
Por fim, no pilar conexão com a sociedade, estamos comprometidos em avançar na agenda da diversidade, equidade e inclusão e da sustentabilidade. Vamos ampliar o percentual de mulheres em cargos de liderança no COB para o ciclo 2028. E deixar o caminho pronto para o próximo presidente avançar.
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Marco La Porta/Yane Marques: Muito se pergunta sobre prioridades e metas. Antes de qualquer coisa, é preciso corrigir o rumo do esporte olímpico brasileiro, fazer ajustes que possam nos colocar novamente numa curva crescente de resultados. Existe uma preocupação com o que aconteceu em Paris, já que vínhamos em uma curva ascendente e paramos de evoluir. E entendemos que a principal causa disso foi o investimento, que não foi assertivo. Não se pensou em longo prazo, interrompeu-se um trabalho que vinha sendo feito na área técnica/esportiva faltando dois anos para os Jogos. E não há como construir nada em dois anos. Nem é culpa dos profissionais que entraram, mas não tem tempo de executar nada com excelência neste curto período.
Justamente por isso queremos, desde já, trazer para a mesa confederações e atletas, montar um planejamento junto com quem está na linha de frente do esporte olímpico brasileiro. Traçar as melhores estratégias para conquistar os melhores resultados possíveis em Los Angeles, mas já trabalhar desde já por Brisbane. E isso passa pela área técnica, esportiva, de gestão, um melhor e mais transparente sistema de repasse de verbas. É nisso que acreditamos.
2. Quais as propostas que já são possíveis colocar em prática no início deste ciclo, para o Brasil conquistar mais medalhas em Los Angeles 2028 do que conquistou em Paris 2024?
Marco La Porta/Yane Marques: Como dissemos anteriormente, é preciso trabalhar em conjunto e não pensar em curto prazo. Não se constrói um trabalho consistente no curto prazo. O caminho passa por uma gestão onde confederações e atletas serão ouvidos e terão voz ativa, com todo mundo assumindo suas responsabilidades, principalmente o COB. Temos que estar mais próximos de quem faz o esporte brasileiro acontecer, no dia a dia.
Eu fui a três olimpíadas, dediquei a maior parte da minha vida ao esporte, e sei que as coisas precisam ser construídas com seriedade para dar certo. Tem muita coisa que pode ser feita já, tanto na área esportiva como na de gestão. Está em nosso plano oferecer uma estrutura melhor para os atletas treinarem, espalhar centros de treinamento por todo o Brasil, em parceria com entidades públicas e privadas. Isso atende ao fomento, ao desenvolvimento, e também a quem já está no alto rendimento, principalmente para modalidades não tão difundidas. E isso eu posso falar com propriedade.
Ter uma estrutura como essa também para suporte multidisciplinar aos atletas, também estabelecendo parcerias, ampliação da área de cuidados com a saúde mental, junto com as respectivas áreas das confederações. Temos um apanhado de ações que podem ter impacto imediato, mas ressaltamos que é uma construção a longo prazo.
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Paulo Wanderley/Alberto Maciel Júnior: Conexão Lima, de olho nos jovens atletas, será uma extensão do que foi o bem-sucedido Conexão Santiago – que trabalhou atletas para o Pan de 2023.
3. A chapa pretende fazer mudanças na estrutura física do Time Brasil, como a construção de novos centros de treinamento, ampliação do CT Maria Lenk ou alguma outra obra de infraestrutura que ajude na preparação dos atletas?
Paulo Wanderley/Alberto Maciel Júnior: O COB vai passar a utilizar um novo centro nacional de treinamento: o CFO, em Fortaleza, que será um polo moderno de aprimoramento de talentos de olho nos próximos ciclos olímpicos. O convênio com a Secretaria de Esportes do Ceará foi assinado no dia 26 de setembro, na abertura da COB Expo.
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Marco La Porta/Yane Marques: Não pensamos em fazer obras, mas estabelecer parcerias, como disse a Yane. Temos muitas boas estruturas espalhadas pelo país e podemos pensar em aproveitá-las em prol do esporte olímpico brasileiro. O COB pode, e deve, entrar como um eventual investidor em melhorias, para adequar, caso necessário, esses espaços às condições que as modalidades necessitam. O mais importante é conseguir oferecer mais e melhores condições para nossos atletas, e em todo o Brasil. Nosso país é muito grande, possui uma infinidade de talentos, mas precisamos estar próximos deles para conseguir descobri-los ou lapidá-los. E é isso que pretendemos.
Uma das medidas, por exemplo, que não tem a ver com estrutura física, mas com o futuro do esporte olímpico brasileiro, é aprimorar os Jogos da Juventude. Queremos aumentar as modalidades disputadas, realizando a competição de base mais importante de cada confederação. É uma medida que, na nossa opinião, fortalecerá a base da pirâmide e proporcionará melhores resultados na descoberta de talentos.
4. O COB precisa se aproximar mais dos atletas? Por quê?
Marco La Porta/Yane Marques: Esta é a base de nosso plano de gestão. E não é se aproximar (só) dos atletas, é dos atletas também. De Confederações, treinadores, atletas, professores, médicos, fisioterapeutas, psicólogos e muita gente incrível que faz a engrenagem do esporte olímpico brasileiro girar. É se aproximar de quem está na linha de frente, de quem está dando o suporte, nos bastidores. Se pudermos contar com todo esse apoio, sem dúvida faremos uma gestão melhor.
Não entramos aqui achando que sabemos de tudo, que vamos reinventar a roda. Queremos aprimorar os bons projetos, ajudar quem está com dificuldade, desenvolver as boas ideias que precisam ser executadas. Teremos as portas abertas e os ouvidos atentos para receber a todos. Ainda mais os atletas, que são os que rodam o mundo defendendo a nossa bandeira, nosso país.
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Paulo Wanderley/Alberto Maciel Júnior: Esse é um movimento fundamental e que o COB, sob a nossa gestão, já vem realizando há alguns anos. Nos últimos dois ciclos, por exemplo, implementamos uma robusta ampliação da participação dos atletas nas principais decisões da entidade. Após passar de um para 15, no ciclo de Paris o número de representantes da CACOB (Comissão de Atletas do COB) com direito a voto nas Assembleias e nas eleições do COB chegou a 19.
Também na nossa gestão e sob a ótica da governança e da transparência, criamos o Conselho e Administração, que conta com a participação de dois representantes dos atletas. O COB faz questão de estar próximo e sempre disposto a ouvir as demandas dos atletas para buscar formas de aprimorar essa relação fundamental para o sucesso do esporte brasileiro.
5. Financeiramente, como a chapa avalia o COB hoje e o que é possível melhorar?
Paulo Wanderley/Alberto Maciel Júnior: Como mencionamos, a nossa gestão fez um forte trabalho de recuperação da imagem e reputação após a suspensão imposta pelo COI em 2017. Graças a esse esforço o COB alcançou recorde de patrocinadores no ciclo Paris 2024. O número de empresas que patrocinaram a entidade subiu de seis para 22 no último ciclo olímpico, comprovando a credibilidade do COB e o interesse da iniciativa privada no esporte olímpico. Além das novas empresas patrocinadoras, uma série de parcerias de licenciamento e institucionais também foram fechadas no ciclo Paris, aumentando não só a receita da entidade como o seu reconhecimento enquanto marca. Tudo isso contribuiu para a receita de patrocínios do comitê crescer 234%.
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Marco La Porta/Yane Marques: É notória a evolução de captação de recursos privados do COB no último ciclo. Foram mais de 20 patrocinadores, foi fechado recentemente o maior patrocínio da história do COB, mas esse dinheiro é destinado para onde? Qual a metodologia de distribuição para quem faz o esporte olímpico brasileiro funcionar, na prática, no dia a dia? Como essa verba considerável chega até as confederações, aos atletas, aos projetos que podem fomentar e desenvolver mais e mais modalidades?
Acreditamos que hoje não existe um critério claro. E vamos estabelecer. Da mesma maneira que existe com a verba pública, tem que ser criado um planejamento anual e uma execução orçamentária mais eficiente. Esses repasses às confederações precisam ser práticos, técnicos, feitos em cima de critérios transparentes, pensando na melhor gestão de recursos, na melhor aplicação no desenvolvimento do esporte brasileiro. Não por meio de doações.
Outro ponto muito interessante é a ampliação do trabalho de captação de novos patrocinadores, usando o knowhow do COB para ajudar as confederações nesse trabalho, a criação de novas fontes de receitas, inclusive no exterior. Temos certeza que esse é um universo ainda pouco explorado e vamos desbravar com muito trabalho.
6. Qual é a sua opinião a respeito do terceiro mandato em entidades esportivas? A lei está sendo cumprida nesta eleição de 2024 no COB?
Marco La Porta/Yane Marques: A gente fez uma campanha propositiva, levando nossas ideias, sentando e conversando bastante. Praticamente não tocamos nesse assunto, mas é óbvio para nós que essa é uma candidatura que contraria o que está estabelecido no Estatuto. Além disso, em pleno 2024, não se permite mais que tenhamos mandatos de 11 anos, como nesse caso.
O movimento olímpico brasileiro precisa manter sua credibilidade e temos certeza que o governo, o judiciário saberão resolver essa questão da melhor maneira possível, se necessário.
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Paulo Wanderley/Alberto Maciel Júnior: O meu foco à frente do COB é no esporte. O objetivo da nossa candidatura é falar de projetos, compromissos concretos e de próximos passos para que o COB siga avançando no patamar de resultados esportivos e de gestão do esporte olímpico brasileiro de forma sustentável. Estou me candidatando para a primeira e última reeleição ao COB. A legislação brasileira não veda a reeleição quando o primeiro período é um chamado mandato tampão. Nossa gestão contribuiu para o resgate da credibilidade do COB e eu não me candidataria se não houvesse respaldo jurídico.