Após quebra na soja e no milho, trigo fica abaixo da expectativa

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MILHO SOJA E TRIGO PIXABAY

Após asquedas na produção de soja e de milho, agora é a vez de o trigo apresentar números abaixo do que os esperados no início de safra.

ParanáeRio Grande do Sulsão os responsáveis pela maior parte da produção brasileira. O Paraná tem um início de safra bastante complicado, principalmente no norte do estado, onde a seca inibe o desenvolvimento da planta.

O Rio Grande do Sul reduz a área de plantio em 13%, embora a produtividade deste ano deva superar a dafrustrada safra de 2023.

A produção total do país, prevista para um volume superior a 10 milhões de toneladas nas estimativas iniciais, poderá ficar abaixo dos 9 milhões, ainda superior à do ano passado, mas menor do que os 10,6 milhões de 2022.

O avanço menor da safra brasileira do cereal gera uma necessidade maior de importaçãoem um momento de dólar pressionadoe redução da oferta do cereal no mercado internacional.

Os preços internos já apontam para essa queda de oferta. A tonelada de trigo no Paraná esteve em R$ 1.555 na semana passada, segundo dados do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), acima dos R$ 1.235 de março.

O preço, tanto no mercado interno como no externo, estava recuando, após os picos registrados com a invasão da Ucrânia pela Rússia. Em julho de 2022, a tonelada do cereal era negociada a R$ 2.200 no mercado interno, valor que caiu para R$ 1.343 no mesmo mês do ano seguinte.

A área destinada ao trigo está sendo menor nesta safra devido às incertezas quanto ao preço do cereal. Pesaram também na decisão do produtor brasileiro a frustração econômica com a safra de 2023 e as incertezas climáticas.

No mercado externo, o clima também afetou grandes produtores e fornecedores do cereal. A Rússia terá uma queda de 11% na safra de 2024/25, que recua para 83 milhões de toneladas. Safra menor e queda nos estoques reduzirão a capacidade de exportação dos russos para 48 milhões de toneladas.

A Ucrânia, outro grande participante do mercado mundial antes de ser invadida pela Rússia, tem sua capacidade produtiva diminuída devido à desestabilização de parte de seu sistema de produção. A Rússia tem como mercados principais a Ásia e a África.

A Ucrânia, após os bombardeios russos em seu sistema marítimo de exportação, concentrou suas vendas em áreas mais próximas, como a Europa. O cenário de oferta só não fica pior porque Estados Unidos e União Europeia podem compensar parte da queda das exportações da Rússia.

A produção mundial de trigo recua para 790 milhões de toneladas nesta safra, 10 milhões a menos do que a esperada, segundo o Usda (Departamento deAgriculturados Estados Unidos). O consumo, devido ao aumento de preços, também cai, tornando o milho mais competitivo na composição das rações.

No Brasil, o plantio da safra caminha para o final no Paraná e está atrasado no Rio Grande do Sul, onde atinge 70% da área que será destinada ao cereal. O excesso de umidade nas regiões mais baixas dificulta o plantio no estado.

Carlos Hugo Winckler Godinho, engenheiro agrônomo do Deral (Departamento de Economia Rural) do Paraná, diz que as condições das lavouras no estado estão piorando. A safra, prevista no último relatório da entidade em 3,8 milhões de toneladas, não deverá se confirmar, podendo ficar abaixo da de 2023, que atingiu 3,6 milhões.

A Emater/RS, após a frustração da safra de 2023, espera um aumento de 77% na produtividade deste ano, o que elevaria a safra atual para 4,1 milhões de toneladas. Se confirmado, o volume supera o do ano passado, mas fica abaixo dos 5,3 milhões de 2022.

Com produção menor, o Brasil volta a importar 6 milhões de toneladas neste ano, acima dos 4,5 milhões de 2023, segundo dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). De janeiro a junho, o país já importou 3,4 milhões de toneladas, 62% a mais do que em igual período do ano anterior, conforme informações da Secex (Secretaria de Comércio Exterior).

A China, que vem assumindo a liderança mundial nas importações do cereal, deverá adquirir 13 milhões de toneladas no mercado externo nesta safra, prevê o Usda (Folha, 9/7/24)



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